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Rafael Pic

Textos sobre João Wesley de Souza





João Wesley debruça-se sobre o mundo mineral. Decifrar a escrituras das pedras - e criar seus próprios signos tem sido uma obsessão do homem ao longo do tempo. No vale do Arno, encontramos os paesines, calcários impregnados de marcas fósseis que desenham estranhas paisagens. Na renascença os artistas imprimem personagens, às minúsculas silhuetas carbonizadas, dando assim, forma final à intenção da natureza. João Wesley age da mesma forma, não procede diferente. Ele caminha horas, dias, na paisagem que ama - a serra do Caparaó, cujas intermináveis colinas respondem às supostas das praias brancas do atlântico. Os seixos rolados do Espírito Santo, com tal nome, nos fazem acreditar que sua forma não depende do acaso - ele os avalia com o olhar, carícias, à sua maneira. Sim, Claudel tinha razão, o olho pode escutar! Depois ele os transporta à nossa civilização de máquinas, submetendo-os à transmigração. A superfície polida nascida do choque com a outra pedra, retorna ao seu universo de origem. Sobre este corpo nu, o perfil do Caparaó se grava como as tatuagens que os marinheiros guardam a vida toda, para lembrar que o amor existe. Land Art? Não, João Wesley não freqüenta o campo para dominar a natureza dentro de uma ordem pré-concebida. Ele tenta restabelecer, por um jogo de símbolos, um vinculo quebrado, uma descendência perdida. Desdobramento por vezes, generoso e desesperado, que demonstra nosso doloroso isolamento, nosso ardor, a reduzir nossa vizinhança a lampejos do real, a fragmentos alegóricos. Exposição - Quatro olhares por uma natureza. Maison de L'Amerique latine, Paris, Março de 2002.





Rafael Pic
  • Paris, dezembro de 2001.
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